terça-feira, 12 de novembro de 2013

IV Encontro Nacional de Ilustradores Científicos

Dos dias 4 a 7 de novembro ocorreu o IV Encontro Nacional de Ilustradores Científicos no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Eu que sou ilustrador da área de cartum e literatura infantojuvenil, me inscrevi no evento por curiosidade e interesse em conhecer mais sobre essa área tão especializada, pois até então conhecia bem pouco, primeiramente através de minha irmã, que pratica ilustração botânica. Além do mais, desde pequeno curtia as ilustrações dos livros que nossa mãe, professora de Ciências, utilizava para trabalhar, especialmente as ilustrações de animais.

  Abertura do evento no Espaço Tom Jobim.

Achei curioso que, pela minha estimativa pessoal, a maioria dos inscritos no evento era composto de senhoras da faixa etária de 50 a 70 anos e a área especializada dominante era justamente a ilustração botânica. Dentre as atividades do evento, estavam seminários, debates, exposições, mostras de portfolio e os minicursos, estes últimos ocorreram no Instituto Nacional de Botânica Tropical, situado no Solar da Imperatriz, no Horto. Me inscrevi no minicurso de Ilustração Ictiológica, ministrado pelo ilustrador português Pedro Salgado, um mestre! Com formação em Biologia e especialização em Ictiologia, que é o estudo dos peixes, tornou-se ilustrador com excelentes trabalhos em aguarela e tinta da china (aquarela e nanquim em português de Portugal).

                              Um vídeo por volta de 20 anos atrás em que Pedro Salgado está desenhando a bico de pena...  

                                                   ... escama por escama...

                                                   ... de um peixe chamado celacanto.

As aulas foram bem divertidas em uma parte graças ao seu carisma e em outra parte graças ao seu sotaque. O curso rendeu bastante, mesmo não havendo tempo de nós alunos desenharmos nada, pois foi predominantemente conceituação e explicação do formato dos peixes, o que as espécies têm em comum e o que cada uma tem de único, além do professor ter demonstrado seu método de trabalho de maneira bem didática e, apesar de oriundo das Ciências Exatas e Biológicas, demonstrou um respeito pela Arte e pelo Design que não vejo normalmente em seus pares, o que me surpreendeu positivamente, pois ele ressaltou que essas áreas são essenciais na melhoria da divulgação científica, principalmente para o grande público.

O peixe da fotografia na mesa é uma tainha. O desenho em primeiro plano é a reprodução do  mesmo desenho de celacanto que foi visto pelos alunos sendo feito no vídeo .

           As várias etapas de produção de uma ilustração de peixe: fotografias, esboços, layouts em transparências, fotocópias...


                                                   ... desenhos, desenhos, mais desenhos...

              ... até acertar o que se está buscando na ilustração. Pedro disse que, como esse processo dura várias horas de trabalho e pesquisa, dependendo do caso uma ilustração de um único peixe chega a levar em média um mês para ser trabalhada, desde o início da pesquisa até a arte-finalização!

                                                   Demonstração de uso do bico de pena com nanquim.

Ao fim do curso, manipulou alguns peixes fornecidos pela organização, mostrando como funciona a anatomia deles. Aproveitei esse momento para desenhar ao vivo, pelo menos algum desenhos de peixe consegui fazer!

                                                   Pedro segurando uma tilápia.

Em primeiro plano, o desenho a bico de pena de um robalo português. Pedro explicou que é um robalo diferente do exemplar que estava no isopor, pois os portugueses ao chegarem pela primeira vez ao Brasil deram os mesmos nomes de espécies por eles já conhecidas a peixes similares que povoam o litoral brasileiro. Por isso ocorre certa confusão com nomes de peixes como sardinha, robalo, etc. encontrados no litoral português com os peixes de mesmo nome encontrados no litoral brasileiro.

                                                                O cheiro forte já estava presente...

 
                                                                 E ainda teve gente que anotou muito mais!

Por fim, houve o concerto de encerramento no Espaço Tom Jobim (com esse nome, onde mais?), com apresentações do duo Leandro Gregório e Hélida Lisboa, o Coro de Câmara Juvenil da Escola de Música Villa-Lobos e a magistral harpista Cristina Braga acompanhada do contrabaixista Ricardo Medeiros. Naquele palco, vi, ao vivo, a que seria o equivalente da harpa ao Jimi Hendrix na guitarra. Só faltou mesmo tacar fogo no instrumento, pois a harpista estava em chamas!

Dependendo da peça a ser tocada alguns garotos do coro ocasionalmente se deslocavam ao longo da apresentação para tocar instrumentos e depois voltavam.

Eventos assim são ótimos também para conhecer pessoas novas. Fiz contatos com pessoas de diversas áreas científicas e artísticas, tanto do Rio de Janeiro quanto de outros estados, além de reencontrar alguns conhecidos. O próximo ENIC será em Belém, em 2015.
Após o término do evento, a partir da sexta dia 8 houve excursões opcionais para vários locais da cidade e do estado do Rio. Escolhi a visita guiada ao Jardim Botânico, onde pude aprender mais sobre determinadas espécies de vegetais com as explicações do biólogo Marcus Nadruz, a quem eu já conhecia pois foi palestrante na II Semana de Ilustração da EBA em 2006, quando o tema foi Ilustração Científica.

                                         Um jacu e uma palmeira jovem, foi o que deu para desenhar durante a visita.

Saí do evento bastante empolgado em querer saber mais sobre essa área, especialmente sobre a ilustração zoológica. Como escrevi lá em cima, os livros de biologia de minha mãe me fascinavam quando criança graça às ilustrações de animais, especialmente insetos. E eis que, depois de um evento chuvoso, naquela mesma sexta calorenta me deparo em casa com uma tanajura já sem asas. Rapidamente a prendi e saquei um pequeno aquário desativado que tenho guardado e montei-o com terra para criar um formigueiro, me baseando nas dicas de uma revista de uma antiga coleção que tenho sobre insetos lançada pela editora Globo nos anos 90, Minimostros!, além de buscar mais subsídios na Internet. Foi legal observar como uma futura rainha - saúva, concluí nas minhas pesquisas - montava seu ninho para uma futura colônia, cavando um buraco na terra.

Baseando-me na metodologia ensinada no minicurso, fotografei e desenhei o espécime e também me baseei em referências de outras ilustrações científicas de formigas. Esse processo é fundamental caso eu queira depois fazer uma arte final de ilustração científica da formiga.

Mas infelizmente ela não durou muito tempo: fatores como calor e umidade de alguma forma afetaram sua saúde e ela não sobreviveu... ou seja, lá se vai a futura colônia... pelo menos pude observá-la e desenhá-la bastante enquanto viva. Ela "deu sua vida pela Ciência" como diria Pedro Salgado sobre os peixes que utiliza como modelos.
E eu brincava durante o evento que, vendo que muitos ilustradores científicos eram cientistas de formação que praticavam Arte, eu ao contrário estava lá como um artista que passou a se interessar em praticar Ciência...

3 comentários:

Leyla Leong disse...

estive presente no iv encontro. fiz o minicurso com o alvar nunes . frotos e sementes. sou ilustradora botanica e autora de livros infanto juvenis. abcs leyla

IRIAM disse...

Felipe,
Adorei o resumo que fez, bastante informativo e fiquei muito feliz que tenha gostado do evento.
O grupo ilustradores científicos é do yahoo grupos e é aberto não só a profissionais, mas também a iniciantes e simpatizantes.
Quem quizer participar dos debates, deve solicitar a adesão e postar qual é o seu interesse.
"ilustradorescientificosbr"
Abraços.

Unknown disse...

Olá Felipe,
Parabéns pelo ótimo relatório sobre o evento.Nos encontramos novamente.

Um grande abraço.

Ediomar Baleste Luzia